Paz e Mel

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Santo Padre catequisa sobre a última ceia


Caros amigos do nosso blog:
Repassamos a seguir, a catequese implementada pelo Papa Bento XVI no
último dia 11 de janeiro, em audiência geral. Tratando da temática da última ceia, recordou-nos o amor do Senhor que sabia do Sacrifício Salvífico que estava por vir e o antecipou sacramentalmente na Eucaristia. Ao lado do mistério da presença real, está o mistério da Redenção da Humanidade.
A conclusão é belíssima: "As nossas Eucaristias consistem em sermos atraídos para aquele momento de oração, em unir-nos sempre de novo à oração de Jesus. Desde o início, a Igreja compreendeu as palavras de consagração como parte da prece
recitada juntamente com Jesus; como uma parte central do louvor cheio de gratidão, através da qual o fruto da terra e do trabalho do homem nos é novamente oferecido por Deus como Corpo e Sangue de Jesus, como autodoação do próprio Deus no amor acolhedor do Filho (cf. Jesus de Nazaré, II, pag. 146). Participando na Eucaristia, alimentando-nos da Carne e do Sangue do Filho de Deus, unamos a nossa oração à prece do Cordeiro pascal na sua noite suprema, a fim de que a nossa vida não se perca, apesar da nossa debilidade e das nossas infidelidades, mas seja transformada". Segue o texto da catequese:


"PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL - Sala Paulo VI - Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2012
A oração de Jesus na Última Ceia
Queridos irmãos e irmãs
No nosso caminho de reflexão sobre a prece de Jesus, apresentada nos
Evangelhos, gostaria de meditar hoje sobre o momento, particularmente
solene, da sua oração na Última Ceia.
O cenário temporal e emocional do banquete no qual Jesus se despede
dos seus amigos é a iminência da sua morte, que Ele já sente próxima.
Havia muito tempo que Jesus tinha começado a falar da sua paixão,
procurando também empenhar cada vez mais os seus discípulos nesta
perspectiva. O Evangelho segundo Marcos narra que desde o início da
viagem rumo a Jerusalém, nos povoados da longínqua Cesareia de Filipe,
Jesus começara 'a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem
padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes
e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três
dias' (Mc 8, 31). Além disso, precisamente nos dias em que se
preparava para dizer adeus aos discípulos, a vida do povo estava
marcada pela aproximação da Páscoa, ou seja, do memorial da libertação
de Israel do Egito. Esta libertação, experimentada no passado e
esperada de novo no presente e para o futuro, era revivida nas
celebrações familiares da Páscoa. A Última Ceia se insere neste
contexto, mas com uma novidade de fundo. Jesus olha para a sua Paixão,
Morte e Ressurreição, plenamente consciente delas. Ele quer viver esta
Ceia com os seus discípulos, com um caráter totalmente especial e
diferente dos outros banquetes; é a sua Ceia, na qual oferece Algo de
totalmente novo: Ele mesmo. Deste modo, Jesus celebra a sua Páscoa,
antecipa a sua Cruz e a sua Ressurreição.
Esta novidade é-nos evidenciada pela cronologia da Última Ceia no
Evangelho de João, que não a descreve como a ceia pascal, precisamente
porque Jesus tenciona inaugurar algo de novo, celebrar a sua Páscoa,
certamente vinculada aos acontecimentos do Êxodo. E para João, Jesus
morreu na Cruz precisamente no momento em que, no templo de Jerusalém,
eram imolados os cordeiros pascais.
Então, qual é o núcleo desta Ceia? São os gestos da fração do pão, da
sua distribuição aos seus e da partilha do cálice do vinho, com as
palavras que os acompanham e no contexto de oração em que se inserem:
é a instituição da Eucaristia, é a grande oração de Jesus e da Igreja.
Mas consideremos mais de perto este momento.
Antes de tudo, as tradições neotestamentárias da instituição da
Eucaristia (cf. 1 Cor 11, 23-25; Lc 22, 14-20; Mc 14, 22-25; Mt 26,
26-29), indicando a oração que introduz os gestos e as palavras de
Jesus sobre o pão e o vinho, utilizam dois verbos paralelos e
complementares. Paulo e Lucas falam de eucaristia/ação de graças:
'Tomou então o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-lho' (Lc
22, 19). Marcos e Mateus, ao contrário, sublinham o aspecto de
eulogia/bênção: 'Tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e
deu-lho' (Mc 14, 22). Ambos os termos gregos eucaristein e eulogein
remetem à berakha judaica, ou seja, para a grandiosa prece de ação de
graças e de bênção da tradição de Israel, que inaugurava os grandes
banquetes. Estas duas diferentes palavras gregas indicam as duas
orientações intrínsecas e complementares desta oração. Com efeito, a
berakha é antes de tudo ação de graças e louvor que se eleva a Deus
pelo dom recebido: na Última Ceia de Jesus, trata-se do pão — feito
com o trigo que Deus faz germinar e crescer da terra — e do vinho
produzido pelo fruto amadurecido nas videiras. Esta oração de louvor e
de ação de graças, que se eleva a Deus, retorna como bênção, que desce
de Deus sobre o dom e o enriquece. Assim, a ação de graças e o louvor
a Deus tornam-se bênção, e a oferenda doada a Deus volta para o homem
abençoada pelo Todo-Poderoso. As palavras da instituição da Eucaristia
inserem-se neste contexto de oração; nelas, o louvor e a bênção da
berakha tornam-se bênção e transformação do pão e do vinho no Corpo e
no Sangue de Jesus.
Antes das palavras da instituição há os gestos: o da fração do pão e o
da oferta do vinho. Quem parte o pão e oferece o cálice é, antes de
tudo, o chefe de família, que recebe à sua mesa os familiares, mas
estes gestos são também os da hospitalidade, do acolhimento na
comunhão convival do estrangeiro, que não faz parte da casa. Estes
mesmos gestos, na ceia com a qual Jesus se despede dos seus, adquirem
uma profundidade totalmente nova: Ele oferece um sinal visível do
acolhimento à mesa em que Deus se doa. No pão e no vinho, Jesus
oferece-se e comunica-se a Si mesmo.
Mas como pode realizar-se tudo isto? Como pode Jesus doar-se, naquele
momento, a Si mesmo? Jesus sabe que a vida está prestes a ser-lhe
tirada através do suplício da cruz, a pena capital dos homens não
livres, aquela que Cícero definia a mors turpissima crucis. Com o dom
do pão e do vinho, que oferece na Última Ceia, Jesus antecipa a sua
morte e a sua ressurreição, realizando aquilo que já tinha dito no
discurso do Bom Pastor: 'Dou a minha vida, para tornar a tomá-la.
Ninguém ma tira; sou Eu que a dou por Mim mesmo. Tenho poder para a
dar e para tornar a tomá-la; este mandamento recebi de Meu Pai' (Jo
10, 17-18). Por conseguinte, Ele oferece antecipadamente a vida que
lhe será tirada, e deste modo transforma a sua morte violenta num
gesto livre de doação de Si mesmo pelos outros e aos outros. A
violência padecida transforma-se num sacrifício concreto, livre e
redentor.
Mais uma vez na oração, começada segundo as formas rituais da tradição
bíblica, Jesus mostra a sua identidade e a determinação a cumprir até
ao fim a sua missão de amor total, de oferta em obediência à vontade
do Pai. A profunda originalidade do dom de Si mesmo aos seus, através
do memorial eucarístico, é o ápice da oração que distingue a ceia de
adeus com os seus. Contemplando os gestos e as palavras de Jesus
naquela noite, vemos claramente que a relação íntima e constante com o
Pai é o lugar em que Ele realiza o gesto de transmitir aos seus, e a
cada um de nós, o Sacramento do amor, o 'Sacramentum caritatis'. Por
duas vezes, no cenáculo, ressoam estas palavras: 'Fazei isto em
memória de Mim' (1 Cor 11, 24.25). Com o dom de Si, Ele celebra a sua
Páscoa, tornando-se o verdadeiro Cordeiro que leva a cumprimento todo
o culto antigo. Por isso são Paulo, falando aos cristãos de Corinto,
afirma: 'Cristo, nossa Páscoa [o nosso Cordeiro pascal!], foi imolado!
Celebremos, pois, a festa... com o fermento da pureza e da verdade' (1
Cor 5, 7-8).
O evangelista Lucas conservou um ulterior elemento precioso dos
acontecimentos da Última Ceia, que nos permite ver a profundidade
comovedora da oração de Jesus pelos seus naquela noite, a sua atenção
por cada um. Começando a partir da oração de ação de graças e de
bênção, Jesus chega ao dom eucarístico, à entrega de Si mesmo e,
enquanto oferece a realidade sacramental decisiva, dirige-se a Pedro.
No final da ceia, Ele diz: 'Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou
para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua
confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos'
(Lc 22, 31-32). Quando se aproxima a provação também para os seus
discípulos, a oração de Jesus sustenta a sua debilidade, a sua
dificuldade de compreender que o caminho de Deus passa através do
Mistério pascal de morte e ressurreição, antecipado na oferenda do pão
e do vinho. A Eucaristia é alimento dos peregrinos, que se torna força
também para aqueles que se sentem cansados, prostrados e
desorientados. E a oração é particularmente para Pedro a fim de que,
uma vez convertido, confirme os irmãos na fé. O evangelista Lucas
recorda que foi precisamente o olhar de Jesus que procurou o rosto de
Pedro no momento em que ele tinha acabado de consumir a sua tríplice
negação, para lhe conferir a força de retomar o caminho no seu
seguimento: 'E naquele mesmo instante, quando ainda falava, o galo
cantou. Voltando-se, o Senhor olhou para Pedro. Então Pedro lembrou-se
das palavras do Senhor' (Lc 22, 60-61).
Caros irmãos e irmãs, participando na Eucaristia, vivamos de modo
extraordinário a oração que Jesus recitou, e recita continuamente, por
cada um a fim de que o mal, que todos nós encontramos na vida, não
prevaleça, e para que em nós aja a força transformadora da morte e da
ressurreição de Cristo. Na Eucaristia, a Igreja responde ao mandato de
Jesus: 'Fazei isto em memória de mim' (Lc 22, 19; cf. 1 Cor 11,
24-26); repete a oração de ação de graças e de bênção e, com ela, as
palavras da transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue do
Senhor. As nossas Eucaristias consistem em sermos atraídos para aquele
momento de oração, em unir-nos sempre de novo à oração de Jesus. Desde
o início, a Igreja compreendeu as palavras de consagração como parte
da prece recitada juntamente com Jesus; como uma parte central do
louvor cheio de gratidão, através da qual o fruto da terra e do
trabalho do homem nos é novamente oferecido por Deus como Corpo e
Sangue de Jesus, como autodoação do próprio Deus no amor acolhedor do
Filho (cf. Jesus de Nazaré, II, pag. 146). Participando na Eucaristia,
alimentando-nos da Carne e do Sangue do Filho de Deus, unamos a nossa
oração à prece do Cordeiro pascal na sua noite suprema, a fim de que a
nossa vida não se perca, apesar da nossa debilidade e das nossas
infidelidades, mas seja transformada.
Estimados amigos, peçamos ao Senhor que, depois de nos prepararmos
devidamente, também com o Sacramento da Penitência, a nossa
participação na sua Eucaristia, indispensável para a vida cristã, seja
sempre o ponto mais elevado de toda a nossa oração. Peçamos que,
profundamente unidos na sua própria oferenda ao Pai, possamos também
nós transformar as nossas cruzes em sacrifício livre e responsável de
amor a Deus e aos irmãos. Obrigado!
Saudação
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua portuguesa, desejando-vos
que o ponto mais alto da vossa oração seja uma digna participação na
Eucaristia para poderdes, também vós, transformar as cruzes da vossa
vida em sacrifício livre de amor a Deus e aos irmãos. Obrigado pela
vossa presença. Ide com Deus".

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