Paz e Mel

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Meditações Papais do Início do Advento


Queridos irmãos em Cristo:

Interrompemos nossa seqüência comum de posts formativos, para acrescentar as falas que seguem, do Santo Padre Bento XVI neste Advento. A primeira é a homilia do Sumo Pontífice na celebração solene das I Vésperas do Primeiro Domingo do Advento. Ali o sucessor de Pedro retoma o sentido desse tempo litúrgico e o atualiza para nós. De se destacar a solenidade da cerimônia, de onde se extrai a foto supra. exemplo da valorização da Liturgia, revitalizada por Bento XVI. A segunda, o Ângelus do referido Domingo, em que o Vigário de Cristo discorreu brevemente sobre a necessidade de esperança do homem, saciada no Advento e pelo Mistério do Santo Natal. Assim que traduzidas, estaremos publicando novos escritos do Santo Padre. Fiquem com as palavras de Sua Santidade.

Forte abraço,

Comunidade Paz & Mel.

CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS DO PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Basílica Vaticana
Sábado, 28 de Novembro de 2009:
"Caros irmãos e irmãs
Com esta celebração vespertina, entramos no tempo litúrgico do Advento. Na leitura bíblica que há pouco ouvimos, tirada da Primeira Carta aos Tessalonicenses, o Apóstolo Paulo convida-nos a preparar a 'vinda de nosso Senhor Jesus Cristo' (5, 23), conservando-nos irrepreensíveis com a graça de Deus. Paulo recorre precisamente à palavra "vinda", em latim, adventus, do qual deriva o termo Advento. I Domingo de Advento, Praça de São Pedro Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Liturgia, afirma que a Igreja "no ciclo anual apresenta todo o mistério de Cristo, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor". Deste modo, "com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes em todo o tempo, para que os fiéis, em contato com eles, se encham de graça" (Sacrosanctum concilium, 102). O Concílio insiste sobre o fato de que Cristo é o centro da liturgia, como o sol em volta do qual giram, semelhante aos planetas, a Bem-Aventurada Virgem Maria – a mais próxima – todos os mártires e os outros santos que no céu cantam o louvor perfeito e intercedem por nós' (ibid., 104).




Reflitamos brevemente sobre o significado desta palavra, que pode traduzir-se com 'presença', 'chegada' e 'vinda'. Na linguagem do mundo antigo, era um termo técnico utilizado para indicar a chegada de um funcionário, a visita do rei ou do imperador a uma província. No entanto, podia indicar também a vinda da divindade, que sai do seu escondimento para se manifestar com poder, ou que é celebrada presente no culto. Os cristãos adotaram a palavra 'advento' para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei, que entrou nesta pobre 'província' denominada terra para visitar todos; na festa do seu advento faz participar quantos nele crêem, aqueles que acreditam na sua presença na assembléia litúrgica. Substancialmente, com a palavra adventus desejava-se dizer: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não O possamos ver nem tocar, como acontece com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem visitar-nos de múltiplos modos.
Portanto, o significado da expressão 'advento' inclui também o de visitatio que, simples e propriamente, quer dizer 'visita'; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim. Na existência quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo 'fazer'. Não é porventura verdade que com freqüência é precisamente a atividade que nos possui, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é talvez verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade 'arrebata-nos'. O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos faz, um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós. Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Manter, por assim dizer, um 'diário interior' deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria porventura a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma 'visita', um modo como Ele pode vir ter conosco e estar ao nosso lado em cada situação?
Outro elemento fundamental do Advento é a espera, expectativa que é ao mesmo tempo esperança. O Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como 'kairós', como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita. Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.
No entanto, existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso.
Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um porvir repleto de esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém. Quando veio ao meio de nós, trouxe-nos e continua a oferecer-nos o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação, que muda de aspecto se Ele se encontra por detrás dela, ou se a mesma está ofuscada pela neblina de uma origem incerta ou de um futuro inseguro. Por nossa vez, podemos dirigir-lhe a palavra, apresentar-lhe os sofrimentos que nos afligem, a impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Estamos persuadidos de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem sentido e vazio. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar mesmo quando os outros já não conseguem garantir-nos qualquer apoio, até quando o presente se torna cansativo.
Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo fato de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança.
Amém!".


ANGELUS



Domingo, 29 de Novembro de 2009
"Queridos irmãos e irmãs!
Pela graça de Deus, iniciamos neste domingo um novo Ano litúrgico, que se abre naturalmente com o Advento, tempo de preparação para o Natal do Senhor. O

É esta a realidade do Ano litúrgico vista, por assim dizer, 'da parte de Deus'. E da parte – digamos –do homem, da história e da sociedade? Que relevância pode ter? É exatamente o caminho do Advento, que hoje iniciamos, que nos sugere a resposta. O mundo contemporâneo precisa sobretudo de esperança: têm necessidade dela os povos em vias de desenvolvimento, mas também os economicamente evoluídos. Cada vez mais nos damos conta de que nos encontramos numa única barca e devemos salvar-nos em conjunto. Percebemos, principalmente quando vemos desmoronar tantas certezas falsas, que necessitamos de uma esperança fiável, que só se pode encontrar em Cristo, o qual, como diz a Carta aos Hebreus 'é o mesmo ontem, hoje e para sempre' (13, 8). O Senhor Jesus veio no passado, vem no presente e virá no futuro. Ele abraça todas as dimensões do tempo, porque morreu e ressuscitou, é o 'Vivente' e, enquanto partilha a nossa precariedade humana, permanece para sempre e oferece-nos a própria estabilidade de Deus. É 'carne' como nós e 'rocha' como Deus. Quem deseja a liberdade, a justiça e a paz pode encorajar-se e levantar a cabeça, porque em Cristo a libertação está próxima (cf. Lc 21, 28) – como lemos no Evangelho de hoje. Por conseguinte, podemos afirmar que Jesus Cristo não diz respeito só aos cristãos ou só aos crentes, mas a todos os homens, porque Ele, que é o centro da fé, também é o fundamento da esperança. E de esperança todos os seres humanos têm necessidade constantemente.
Queridos irmãos e irmãs, a Virgem Maria encarna plenamente a humanidade que vive na esperança baseada na fé no Deus vivo. Ela é a Virgem do Advento: está enraizada no presente, no 'hoje' da salvação; recebe no seu coração todas as promessas passadas; e está orientada para o cumprimento do futuro. Coloquemo-nos na sua escola, para entrar verdadeiramente neste tempo de graça e acolher, com alegria e responsabilidade, a vinda de Deus na nossa história pessoal e social".

Fontes:

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/angelus/2009/documents/hf_ben-xvi_ang_20091129_po.html





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