Paz e Mel

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O que a Revista Veja disse da Sagrada Escritura





http://veja.abril.com.br/231209/historia-sem-fim-p-152.shtml
Caríssimos irmãos e irmãs:

A edição de n.º 2144, datada de 23 de dezembro último, da Revista Veja, tinha por capa "A Atualidade da Bíblia", e reportagem central, "A história sem fim", sobre a Sagrada Escritura. A reportagem merece um comentário, e de modo geral positivo, embora de forma alguma se a possa tomar como critério para avaliar a Palavra de Deus. A reportagem é regada por belas imagens, das quais vemos algumas acima, e possui muitos bons aspectos, especialmente para um mundo em que geralmente se a tem como um livro velho, de contos ultrapassados e histórias irreais, sem importância para o tempo de hoje. A reportagem é clara ao discorrer e concluir pela importância da Bíblia na história da humanidade e na geração da sociedade em que hoje vivemos.

O texto começa com a narração do nascimento de Jesus, do Evangelho de São Lucas, o que em si já é positivo, admitamos, porque o Evangelho em si mesmo possui poder para tocar os corações, sendo ao menos quase sempre um bem citá-lo. Ainda atesta a, no mínimo aparente, veracidade da narrativa de Lucas "Nas mãos desse autor, entretanto, fato e fé se fundem de maneira tão completa que, mesmo para um leitor ateu ou agnóstico, se torna um desafio separá-los".

A reportagem fica um tempo falando da experiência de A. J. Jacobs, um agnóstico de origem judia que passou um ano tentando seguir literalmente cada pequeno preceito bíblico, do mais simples ao mais complexo. Essa parte da reportagem e a entrevista de Jacobs possuem pouca importância, dado que, mantendo-se ateu e agnóstico, deixou de cumprir o primeiro, maior e mais importante mandamento que é amar a Deus e crer nEle. Sem a vivência desse, todo o resto perde mesmo o sentido. De outro lado, a vivência externa de um normativismo radical foi mesmo objeto de crítica pelo próprio Senhor Jesus. De fato, para se viver bem a Sagrada Escritura, é preciso viver segundo seu espírito e somente a interpretação autêntica do Sagrado Magistério da Igreja, instituída pelo próprio Jesus para também guardar a Sagrada Escritura e anunciar a Palavra, o garante. É por aí que irá, aliás, a crítica necessária à reportagem. É mesmo impossível adentrar na profundidade da Escritura e na sua melhor compreensão sem o Magistério e aí ela não entra. Sobre a entrevista e o autor, porém, a própria reportagem retira a importância da experiência e do livro que dela surgiu: "O livro, claro, é parte troça e golpe publicitário".

De outro lado, a reportagem mesmo conclui ainda que, embora judeus e evangélicos digam que fazem simplesmente uma interpretação literal da Bíblia, pelo que não haveria erro (diferentemente da Igreja Católica, que determina a interpretação via Sagrado Magistério), acabam fazendo escolhas sobre sua interpretar. Aduz: "só para ficar no exemplo mais prosaico, o noticiário estaria cheio de episódios de apedrejamento de adúlteros e adúlteras. Não está, porque não há comunidade religiosa judaica ou cristã que endosse tal prática, hoje considerada bárbara (e isso significa, sim, relativizar e interpretar). Também não se sabe de mulheres que tenham tido uma mão cortada por agarrar as partes pudendas de um homem para defender o marido em uma briga – como está dito em um dos volumes do Velho Testamento, o Deuteronômio".

A reportagem atesta a importância da Bíblia Sagrada, sua força e a marca definitiva dela sobre a civilização ocidental: "É como se a Bíblia e a tradição que ela carrega fossem, enfim, o DNA da civilização ocidental: crer ou não crer corresponde àquela porcentagem infinitesimal de diferenças genéticas que nos separam – todo o resto, ou 99% dos genes, são comuns a todos nós". Mais, deu conta de sua prodigiosa produção, ao longo de vários Séculos e por muitos autores.

Embora alguns trechos da reportagem caiam em um certo relativismo equivocado, como permitindo ou autorizando interpretações muito diversas da Escritura, ou quando diz expressamente "nem tudo nela pode ser descrito como a palavra direta de Deus", o fato é que possui valor ao admitir a ação de Deus na referida. "Não importa qual seja a versão, duas coisas são cristalinas e constantes na Bíblia. A primeira é que cada uma das partes desse texto sagrado, sejam elas as aceitas pelos cristãos ou pelos judeus, é como que um tijolo no edifício que se pode chamar de o plano de Deus para os homens. E a segunda é que cada um desses tijolos traz alguma marca, mais ou menos profunda, do tempo em que foi moldado: a Bíblia é singular entre os textos sagrados também por ser uma crônica extensa e detalhada da civilização à qual ia dando forma".

A reportagem acerta ao colocar como interpretação possível da proibição do Antigo Testamento de consumo de carne suína um cuidado para evitar a contaminação física, enfim, por problemas de saúde (embora esse cuidado deva ter sido mais do próprio Deus do que dos autores humanos da Escritura). De outro lado, toma um critério equivocado, demasiadamente materialista, ao ver no Batismo uma criação para substituir de forma simplificada a antiga tradição judia de peregrinação a Jerusalém.

No geral, a reportagem acerta ao dar um valor ao menos parcialmente sobrenatural à Bíblia, guardando seu valor. No entanto, cunhada por uma mentalidade afastada da verdade garantida pela Igreja de Cristo, não consegue distinguir entre a verdade absoluta e imutável, que a Bíblia traz e que não permite relativisações, e os pontos acidentais que ela narra que não apenas não precisam, como não devem ser absolutizados, especialmente por não distinguir o Antigo Testamento como foi escrito originalmente da maneira como é vista pelos cristãos, a saber, a partir de Jesus Cristo e de seu Evangelho. NEle caem por terra os problemas de seguimento apenas exterior dos preceitos, da morte do adúltero versus caridade (é Jesus quem resolve o problema), da proibição de consumo de "carnes impuras" (novamente Jesus). Não há como conciliar perfeitamente as duas visões do Antigo Testamento, nem como se extrair um conceito uniforme da Sagrada Escritura, tentando se fazer uma síntese entre ambas.

O outro grande erro da reportagem da Escritura advém de não dar importância similar a ela para a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério. Com efeito, realmente, em uma leitura fundamentalista, a Sagrada Escritura terá contradições internas inconciliáveis e, de certa forma, irracionais, não podendo e não devendo ser cumprida. No entanto, com a lente da Sagrada Tradição e do Sagrado Magistério, especialmente pela chave já explicitada, de se ler o Antigo Testamento a partir de Jesus Cristo e do Novo, tudo fica bem mais claro. Só assim se relavisa o que é relativo e acidental, para se viver de forma racional, e se mantem rígido o que não é relativo, ainda que o mundo assim o classifique, e se aja de forma racional, ainda que com grandes sacrifícios, apesar de o mundo de hoje quase nunca considerar racional o que exija sacrifício.

Concluindo, a reportagem dá um passo fundamental e maravilhoso, que a mídia geralmente não chega a dar, e aí está o valor da edição, que é pôr em evidência boa parte do que a Bíblia é, admitir sua grandeza e sua influência imensa e altamente positiva sobre a civilização oriental. Infelizmente, não deu o segundo passo, de cuidar para se chegar ao cerne da Bíblia e a sua única interpretação inteiramente coerente e racional possível que depende da admissão total do cristianismo e da complementação, com igual valor, pela Sagrada Tradição e Sagrado Magistério da Escritura Sagrada.

Esse mesmo equívoco central, que pode ser visto no quadro que a revista apresenta de como se lê a Escritura por judeus, católicos, ortodoxos e protestantes, aparece também na entrevista de Jacobs, já mencionada e no questionário que toma o conhecimento sobre a Sagrada Escritura, que gasta muito tempo em circunstâncias menos importante do que no central. O próprio questionário tem seus equívocos, sendo o mais evidente o chamar São Lucas e São Marcos de "Apóstolos".

Com essas considerações, concluímos a brevíssima análise da reportagem.

Grande abraço a todos!

Manoel Guimarães,
Comunidade Paz & Mel.

Para ler a reportagem:



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