Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo:
Seguimos tendo a graça de compartilhar a mensagens do Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, publicadas no site daquela Arquidiocese. Na presente, refere-se à mensagem do Santo Padre Bento XVI em face do dia primeiro de janeiro último, "Dia Mundial da Paz". O purpurado analisou a mensagem e refletiu que a preocupação ecológica decorre da própria Sagrada Escritura e ressalta que a harmonia inicial foi quebrada pelo pecado e este deve ser combatido. Reforçou a necessidade de justiça e solidariedade entre os países, bem como a idéia de "solidariedade entre as gerações, de Bento XVI. Fiquemos com a íntegra da mensagem.
Atenciosamente,
Comunidade Paz & Mel.
"A Paz e o Meio Ambiente
A Igreja do mundo todo celebra a 1º de janeiro o Dia Mundial da Paz. O Santo Padre anima e estimula essa celebração com uma mensagem: 'Se queres cultivar a paz, preserva a criação'.
O Santo Padre Bento XVI, em seu documento, se refere ao assunto fazendo um alerta. Diz ele: 'a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacífica da humanidade. Se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral (...), não são menos preocupantes os perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e aos bens naturais que Deus nos concedeu. Por isso, é indispensável que a humanidade renove e reforce aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus' (nº 1).
O Magistério Pontifício, especialmente nos últimos anos, tem alertado repetidas vezes para o problema da relação do homem com a natureza, cujas tendências atuais, se não mudarem, trarão ainda mais graves prejuízos para si e para o equilíbrio ecológico.
Essa preocupação com o meio ambiente nada tem a ver com movimentos políticos, mas com nossa visão moral do mundo. Para os cristãos, ela constitui o real sentido da própria Revelação divina.
No livro do Gênesis, temos a descrição da ação criadora de Deus. À medida que se formava o Universo, o texto sagrado observa: 'E Deus viu que todas as coisas eram boas'. Ao concluir a tarefa, acrescenta: 'E Deus contemplou tudo o que tinha feito; e eis que estava tudo muito bem' (Gn 1,31).
Essa harmonia foi logo ferida pelo pecado. A relação ordenada dos primeiros pais com a criação sofreu duro golpe, pois a desobediência original provocou uma desordem que irá repercutir no conjunto até ao final dos tempos.
Ao homem continua entregue essa obra, cabe a ele conservá-la. Esse seu dever se torna agudo em nossos dias, pois a deterioração do meio ambiente ameaça a própria Humanidade. A rebelião iniciada pela não observância do preceito divino se multiplica. O modo de agir em tudo o mais, à margem do destino dado aos seres pelo Criador, revela os efeitos desse desacerto inicial. Quem deveria zelar pela conservação do que lhe foi entregue, ele próprio é sinal de desagregação.
Por isso, o Sumo Pontífice afirma: 'Vivemos uma 'crise ecológica'. E não se pode avaliar essa crise prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação. É decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e, sobretudo, a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por toda a parte' (nº 5).
A preservação da harmonia do Universo interessa a cada um de nós. Assim, ferindo-a, atingimos a todos. Trata-se de uma herança que não pode ser desfrutada impunemente por uma minoria. O Concílio Vaticano II ensina: 'Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de todos os homens e de todos os povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade' ("Gaudium et Spes", nº 69).
O problema do crescente distanciamento entre as nações industrializadas e outras em vias de desenvolvimento afeta diretamente a natureza. Faz-se necessário uma urgente atitude de solidariedade entre os países, pois há íntima relação entre abundância de uns e a miséria de outros. Não se pode lançar apenas sobre alguns os desmandos provocados no meio ambiente. Há uma corresponsabilidade mais ampla. A este respeito assim se expressa o Papa Bento XVI: 'É importante reconhecer, entre as causas da crise ecológica atual, a responsabilidade histórica dos países industrializados. Contudo, os países menos desenvolvidos e, de modo particular, os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para com a criação, porque o dever de adotar gradualmente medidas e políticas ambientais eficazes pertence a todos' (nº 8).
O Santo Padre insiste ainda que 'é urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras. 'Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um fato e um benefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações presentes têm em relação às futuras' (idem).
Ao começar um Novo Ano, acesas tantas esperanças de dias melhores, esta Mensagem alarga os horizontes e nos convoca a conservar tudo o que é obra das mãos de Deus, com o repetido apelo: 'Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação'.
Cardeal Eugenio de Araujo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro ".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.