Queridos e amados irmãos e irmãs, que acompanham o nosso blog:
Seguimos publicando, então, os discursos do Santo Padre aos Bispos brasileiros, nas recentes visitas ad limina, realizadas ao Santo Padre. Nesse sentido, recordamos que justamente agora estão lá os Bispos do Regional Sul 3 da CNBB, rogando ao Senhor que a visita seja abençoada e profícua.
Falamos agora do discurso ministrado aos Bispos da Regional Nordeste 2, da CNBB, proferido pelo Santo Padre em 17 de setembro. Após a saudação aos Prelados e agradecimento das palavras ao Santo Padre dirigidas, Bento XVI recordou que, na Igreja de Cristo "os membros não têm todos a mesma função: é isto que constitui a beleza e a vida do corpo (cf. 1 Cor 12, 14-17). É na diversidade essencial entre sacerdócio ministerial e sacerdócio comum que se entende a identidade específica dos fiéis ordenados e leigos", já dando aí a temática que seria abordada. E deixa-a ainda mais clara imediatamente a seguir: "Por essa razão é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos". Novamente o Santo Padre parece adivinhar, como grande pastor que é, uma grande problemática da Igreja Católica a nossa volta.
O Sumo Pontífice prossegue, esclarecendo: "os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja. Diversamente, os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos". Salta aos olhos num primeiro momento a questão do envolvimento de sacerdotes com política partidária. Com efeito, a Igreja sempre o condenou. Infelizmente, ainda vemos o erro ocorrendo a nossa volta no Brasil, mormente em partidos da chamada esquerda. Não cabe aos sacerdotes o papel que é destinado aos leigos. É o Santo Padre quem no-lo diz. Que seja ouvido!
E prossegue o Vigário de Cristo, agora falando do erro inverso ao anterior: "O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja. É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, talvez consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos. Mas, não é a falta de presbíteros que justifica uma participação mais ativa e numerosa dos leigos". Fica claro aí que o número exíguo de presbíteros não dá aos leigos prerrogativas que são do sacerdote, pela falta daqueles. Não podem os leigos praticar atos litúrgicos, por exemplo, de um Sacerdote, porque tais são prerrogativas deste.
O sucessor de São Pedro reiterou essa atribuição exclusiva do Sacerdote nos atos litúrgicos e sacramentais: "Sabemos que 'a missão de salvação, confiada pelo Pai a seu Filho encarnado, é confiada aos Apóstolos e, por eles, aos seus sucessores; eles recebem o Espírito de Jesus para agirem em seu nome e na sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o laço sacramental que une a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos e, por eles, ao que disse e fez o próprio Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos' Catecismo da Igreja Católica, n. 1120). Por isso, a função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o seu Corpo e o seu Sangue. Por isso urge pedir ao Senhor que envie operários à sua Messe; além disso, é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da missão". Mais, a grande ação a ser feita ante a falta de Sacerdotes é rogar ao Senhor da Messe.
O Santo Padre exortou quanto a necessidade de cuidado com tal distinção, baseada na já citada diferença entre o Sacerdócio Comum e o Ministerial: "É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado". A exigüidade de presbíteros nunca pode ser considerada normal, devendo-se retomar o esforço para a promoção vocacional: "Na situação atual em que muitos de vós sois obrigados a organizar a vida eclesial com poucos presbíteros, é importante evitar que uma tal situação seja considerada normal ou típica do futuro (...) deveis concentrar esforços para despertar novas vocações sacerdotais e encontrar os pastores indispensáveis às vossas dioceses, ajudando-vos mutuamente para que todos disponham de presbíteros melhor formados e mais numerosos para sustentar a vida de fé e a missão apostólica dos fiéis".
Nesse sentido, o testemunho dos sacerdotes é fundamental, com a vivência de todos os seus compromissos: "aqueles que receberam as Ordens sacras são chamados a viver com coerência e em plenitude a graça e os compromissos do batismo, isto é, a oferecerem-se a si mesmos e toda sua vida em união com a oblação de Cristo. A celebração quotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho de toda existência que se faz dom a Deus e aos outros e torna-se assim orientação para os fiéis". O Papa ainda recordou o ano Sacerdotal, ora em curso, recordando o exemplo do Santo Cura D'Ars, a todos os presbíteros e o do Santo Frei Galvão, brasileiro canonizado em 2007 no Brasil.
Antes de se encerrar o presente comentário, é de se ressaltar a grande diferença entre o Sacerdócio Sacerdotal e o Comum dos fiéis, tão destacada pelo Santo Padre, inclusive para destacar o que parece ter sido a intenção de Bento XVI, de questionar o quanto nossas Celebrações Eucarísticas têm talvez rodeado a participação do leigo de uma tal solenidade que leve o povo a confundir os dois Sacerdócios, além, é claro de se evitar os equívocos de dar a leigos funções que são Sacerdotais.
E o Vigário de Cristo quis ressaltar que essa é a verdadeira participação e consciência dos fiéis, não a confusão dos papéis, mas o conhecimento e a vivência da distinção de funções: "Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação".
Sigamos refletindo as palavras do Bispo de Roma e rogando ao Senhor que saibamos vivê-las e obedecê-las.
Segue a íntegra do discurso papal.
Abraços fraternos,
Manoel Guimarães,
Comunidade Paz & Mel.
"Venerados Irmãos no Episcopado
Como o apóstolo Paulo nos primórdios da Igreja, viestes, amados Pastores das províncias eclesiásticas de Olinda e Recife, Paraíba, Maceió e Natal, visitar Pedro (cf. Gal 1, 18). Acolho e saúdo com afeto cada um de vós, a começar por Dom Antônio, Arcebispo de Maceió, a quem agradeço os sentimentos que manifestou em nome de todos fazendo-se intérprete também das alegrias, dificuldades e esperanças do povo de Deus peregrino no Regional Nordeste 2. Na pessoa de cada um de vós, abraço os presbíteros e os fiéis das vossas comunidades diocesanas.
Nos seus fiéis e nos seus ministros, a Igreja é sobre a Terra a comunidade sacerdotal organicamente estruturada como Corpo de Cristo, para desempenhar eficazmente, unida à sua Cabeça, a sua missão histórica de salvação. Assim no-lo ensina São Paulo: 'Vós sois Corpo de Cristo e seus membros, cada um na parte que lhe toca' (1 Cor 12, 27). Com efeito, os membros não têm todos a mesma função: é isto que constitui a beleza e a vida do corpo (cf. 1 Cor 12, 14-17). É na diversidade essencial entre sacerdócio ministerial e sacerdócio comum que se entende a identidade específica dos fiéis ordenados e leigos. Por essa razão é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos. Nessa perspectiva, portanto, os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja. Diversamente, os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos. É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado.
O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja. É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, talvez consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos. Mas, não é a falta de presbíteros que justifica uma participação mais ativa e numerosa dos leigos. Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação.
Sabemos que 'a missão de salvação, confiada pelo Pai a seu Filho encarnado, é confiada aos Apóstolos e, por eles, aos seus sucessores; eles recebem o Espírito de Jesus para agirem em seu nome e na sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o laço sacramental que une a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos e, por eles, ao que disse e fez o próprio Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos' (Catecismo da Igreja Católica, n. 1120). Por isso, a função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o seu Corpo e o seu Sangue. Por isso urge pedir ao Senhor que envie operários à sua Messe; além disso, é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da missão.
Amados Irmãos, tenho a certeza de que, na vossa solicitude pastoral e na vossa prudência, procurais com particular atenção assegurar às comunidades das vossas dioceses a presença de um ministro ordenado. Na situação atual em que muitos de vós sois obrigados a organizar a vida eclesial com poucos presbíteros, é importante evitar que uma tal situação seja considerada normal ou típica do futuro. Como lembrei ao primeiro grupo de Bispos brasileiros na semana passada, deveis concentrar esforços para despertar novas vocações sacerdotais e encontrar os pastores indispensáveis às vossas dioceses, ajudando-vos mutuamente para que todos disponham de presbíteros melhor formados e mais numerosos para sustentar a vida de fé e a missão apostólica dos fiéis.
Por outro lado, também aqueles que receberam as Ordens sacras são chamados a viver com coerência e em plenitude a graça e os compromissos do batismo, isto é, a oferecerem-se a si mesmos e toda sua vida em união com a oblação de Cristo. A celebração quotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho de toda existência que se faz dom a Deus e aos outros e torna-se assim orientação para os fiéis.
Ao longo dos meses que estão decorrendo, a Igreja tem diante dos olhos o exemplo do Santo Cura d'Ars, que convidava os fiéis a unirem suas vidas ao Sacrifício de Cristo e oferecia-se a si mesmo, exclamando: 'Como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!' (Le Curé d'Ars. Sa pensée – son cœur, coord. Bernard Nodet, 1966, pág. 104). Ele continua sendo um modelo atual para os vossos presbíteros, expressamente na vivência do celibato como exigência do dom total de si mesmos, expressão daquela caridade pastoral que o Concílio Vaticano II apresenta como centro unificador do ser e do agir sacerdotal. Quase contemporaneamente vivia no vosso amado Brasil, em São Paulo, Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, que tive a alegria de canonizar a 11 de maio de 2007 : também ele deixou um «testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia (…), [vivendo] em laus perene, em atitude constante de oração' (Homilia de sua canonização, n. 2). Deste modo ambos procuraram imitar Jesus Cristo, fazendo-se cada um deles não só sacerdote, mas também vítima e oblação como Jesus.
Amados Irmãos no Episcopado, já se manifestam numerosos sinais de esperança para o futuro das vossas Igrejas particulares, um futuro que Deus está preparando através do zelo e da fidelidade com que exerceis o vosso ministério episcopal. Quero certificar-vos do meu apoio fraterno ao mesmo tempo que peço as vossas orações para que me seja concedido confirmar a todos na fé apostólica (cf. Lc 22, 32). A bem-aventurada Virgem Maria interceda por todo o povo de Deus no Brasil, para que pastores e fiéis possam, com coragem e alegria, 'anunciar abertamente o mistério do Evangelho' (cf. Ef 6, 19). Com esta oração, concedo a minha Bênção Apostólica a vós, aos presbíteros e a todos os fiéis das vossas dioceses: 'A paz esteja com todos vós que estais em Cristo' (1 Ped 5, 14)".
Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/september/documents/hf_ben_xvi_spe_20090917_ad-limina-brasile2_po.html
Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/september/documents/hf_ben_xvi_spe_20090917_ad-limina-brasile2_po.html
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