Povo de Deus que acompanha nosso blog:
Dentro do objetivo maior deste blog está o crescimento e a formação integral de todos os seus freqüentadores, nossos amigos. Nesse sentido, nestes primeiros dias e pretendemos que siga assim, vamos tentar ministrar aos poucos formações da doutrina e do pensamento católico e seguir comentando acontecimentos do cotidiano atual, para atentar à perspectiva cristã da notícia, dando um enfoque que a mídia em geral não dá e atentando a fatos e realidades a que ela geralmente não atenta.
Nesse quadro, uma conscientização a que desde sua concepção este blog teve por objetivo dar a seus visitadores é a da realidade sobre a Idade Média. Com efeito, é ensino comum nas escolas que se tratou de uma grande idade de trevas, em que a Igreja exerceu um domínio grande, tentando garantir poder temporal, também esforçando-se por gerar um clima de medo do sobrenatural, do espiritual e manter na ignorância a população em geral. Trata-se de uma visão inteiramente equivocada, senão mesmo mal-intencionada.
É inequívoco que a transmissão do conhecimento na Idade Média foi dificultada, mas qual a razão disso? A Igreja Católica? Certamente não! Toda a insegurança gerada pelas invasões bárbaras a violência e a ausência de um Estado forte que garantisse a segurança dos povos, de modo a permitir a circulação mais livre das riquezas, produtos e também de livros, descobertas, estudos, enfim, do pensamento. Nada a ver, portanto, com a Igreja. Mais, a Igreja foi talvez a instituição que mais contribuiu para a salvaguarda do pensamento e conhecimento até então produzido, bem como seu aprofundamento e evolução. É da Igreja que nasce a Universidade; é ela a grande incentivadora do pensamento e dos pensadores. Como se disse antes, evidentemente, o trânsito e a propagação de tudo, inclusive do conhecimento, era extremamente dificultada na época medieval.
Não vamos insistir no tema aqui, mas justamente por agora, o Santo Padre, em suas catequeses regulares (para quem não sabe, o Papa, toda a quarta-feira, realiza uma audiência pública em que dá uma catequese para as pessoas presentes; geralmente são grandes seqüências, de um mesmo assunto) está falando exatamente sobre santos da Idade Média desde fevereiro deste ano. Recomendamos muito a leitura de todas essas catequeses, pois nos ajuda a compreender como estava realmente a Europa na Idade Média. O conhecimento da realidade daqueles santos deixa evidente que a Europa medieval não era unicamente o caos, o vazio intelectual e cultural e o obscurantismo que muitos pregam que fosse.
De modo particular, algumas das últimas catequeses tem sido fundamentalmente importantes e ajudam de modo especial a os conscientizar da verdade sobre a Idade Média, se as lermos lentamente e em seqüência. Este blog, portanto, pretende transcrever algumas dessas catequeses para ajudar nossos amigos internautas em sua formação cristã. Talvez passemos a publicar sempre essas catequeses. Por ora, estamos nos comprometendo a publicar semanalmente a atual seqüência. Bem, comecemos então com a catequese do último dia 23 de setembro, sobre Santo Anselmo, grande pensador cristão. Fiquem, então com o Santo Padre:
"PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 23 de Setembro de 2009
Santo Anselmo de Aosta
Prezados irmãos e irmãs
Em Roma, na colina do Aventino, encontra-se a Abadia beneditina de Santo Anselmo. Como sede de um Instituto de estudos superiores e do Abade Primaz dos Beneditinos Confederados, ela é um lugar que une em si a oração, o estudo e o governo, precisamente as três atividades que caracterizam a vida do Santo ao qual é dedicada: Anselmo de Aosta, de quem se recorda este ano o ix centenário da morte. As múltiplas iniciativas, promovidas especialmente pela diocese de Aosta para esta fausta celebração, puseram em evidência o interesse que continua a suscitar este pensador medieval. Ele é conhecido também como Anselmo de Bec e Anselmo de Cantuária, devido às cidades com as quais esteve em contacto. Quem é esta figura à qual três localidades distantes entre si e situadas em três nações diferentes — Itália, França e Inglaterra — se sentem particularmente ligadas? Monge de intensa vida espiritual, excelente educador de jovens, teólogo com uma extraordinária capacidade especulativa, sábio homem de governo e defensor intransigente da libertas Ecclesiae, da liberdade da Igreja, Anselmo é uma das personalidades eminentes da Idade Média, que soube harmonizar todas estas qualidades graças a uma profunda experiência mística, que sempre orientou o seu pensamento e a sua ação.
Santo Anselmo nasceu em 1033 (ou no início de 1034) em Aosta, primogênito de uma família nobre. O pai era homem rude, dedicado aos prazeres da vida e dissipador dos seus bens; a mãe, ao contrário, era mulher de costumes excelsos e de profunda religiosidade (cf. Eadmero, Vita s. Anselmi, pl 159, col. 49). Foi ela que se ocupou da primeira formação humana e religiosa do filho, que depois confiou aos Beneditinos de um priorado de Aosta. Anselmo, que quando era criança — como narra o seu biógrafo — imaginava a morada do bom Deus entre os cumes altos e nevados dos Alpes, uma noite sonhou que tinha sido convidado para esta mansão maravilhosa pelo próprio Deus, que se entreteve prolongada e afavelmente com ele e, no final ofereceu-lhe de comer 'um pão extremamente cândido' (Ibid., col. 51). Este sonho deixou-lhe a convicção de ser chamado a cumprir uma alta missão. Com quinze anos de idade, pediu para ser admitido na Ordem beneditina, mas o pai opôs-se com toda a sua autoridade e não cedeu sequer quando o filho, gravemente enfermo e sentido-se próximo da morte, implorou o hábito religioso como conforto supremo. Depois da sua cura e da morte prematura da mãe, Anselmo atravessou um período de dissipação moral: descuidou os estudos e, dominado pelas paixões terrenas, tornou-se surdo ao chamamento de Deus. Saiu de casa e começou a viajar pela França em busca de novas experiências. Depois de três anos, tendo chegado à Normandia, foi à Abadia beneditina de Bec, atraído pela fama de Lanfranco de Pavia, prior do mosteiro. Para ele foi um encontro providencial e decisivo para o resto da sua vida. Com efeito, sob a guia de Lanfranco, Anselmo retomou vigorosamente os estudos e, em breve tempo, tornou-se não apenas o pupilo predileto, mas também o confidente do mestre. A sua vocação monástica reacendeu-se e, depois de uma avaliação atenta, com 27 anos de idade, entrou na Ordem monástica e foi ordenado sacerdote. A ascese e o estudo abriram-lhe novos horizontes, fazendo-lhe reencontrar, a nível muito mais elevado, aquela familiaridade com Deus, que ele tivera quando era criança.
Quando, em 1063, Lanfranco se tornou abade de Caen, Anselmo, após apenas três anos de vida monástica, foi nomeado prior do mosteiro de Bec e mestre da escola claustral, revelando dotes de educador requintado. Não gostava dos métodos autoritários; comparava os jovens com plantas pequenas que se desenvolvem melhor se não permanecem fechadas na estufa, e concedia-lhes uma liberdade 'sadia'. Era muito exigente consigo mesmo e com os outros na observância monástica, mas em vez de impor a disciplina, empenhava-se a fazê-la seguir com a persuasão. Quando faleceu o abade Herluino, fundador da Abadia de Bec, Anselmo foi eleito unanimemente seu sucessor: corria o mês de Fevereiro de 1079. Entretanto, numerosos monges tinham sido chamados para Cantuária, a fim de levar aos irmãos da outra margem do canal da Mancha a renovação em curso no continente. A sua obra foi bem aceite, a tal ponto que Lanfranco de Pavia, abade de Caen, se tornou o novo Arcebispo de Cantuária e pediu a Anselmo que transcorresse um certo período com ele para instruir os monges e para o ajudar na difícil situação em que se encontrava a sua comunidade eclesial, depois da invasão dos Normandos. A permanência de Anselmo revelou-se muito fecunda; ele conquistou simpatia e estima, a tal ponto que, com a morte de Lanfranco, foi escolhido para lhe suceder na sede arquiepiscopal de Cantuária. Recebeu a solene consagração episcopal em Dezembro de 1093.
Anselmo comprometeu-se imediatamente numa luta enérgica pela liberdade da Igreja, apoiando com coragem a independência do poder espiritual em relação ao temporal. Defendeu a Igreja contra as ingerências indevidas das autoridades políticas, sobretudo dos reis Guilherme, o Vermelho, e Henrique i, encontrando encorajamento e apoio no Romano Pontífice, a quem Anselmo demonstrou sempre uma adesão intrépida e cordial. Esta fidelidade custou-lhe, em 1103, também a amargura do exílio da sua sede de Cantuária. E somente quanto, em 1106, o rei Henrique i renunciou à pretensão de conferir as investiduras eclesiásticas, assim como à cobrança dos impostos e à confiscação dos bens da Igreja, Anselmo pôde regressar à Inglaterra, onde foi recebido festivamente pelo clero e pelo povo. Assim, concluiu-se felizmente a longa luta por ele empreendida com as armas da perseverança, da determinação e da bondade. Este santo Arcebispo, que suscitava tanta admiração ao seu redor onde quer que fosse, dedicou os últimos anos da sua vida principalmente à formação moral do clero e à pesquisa intelectual a respeito de temas teológicos. Faleceu no dia 21 de Abril de 1109, acompanhado pelas palavras do Evangelho proclamado na Santa Missa daquele dia: 'Vós estivestes sempre junto de mim nas minhas provações, e Eu disponho a vosso favor do Reino, como meu Pai dispõe dele, a fim de que comais e bebais à minha mesa...' (Lc 22, 28-30). O sonho daquele banquete misterioso, que quando era criança tivera precisamente no início do seu caminho espiritual, encontrava assim a sua realização. Jesus, que o tinha convidado para se sentar à sua mesa, acolheu Santo Anselmo, na sua morte, no reino eterno do Pai.
'Deus, rogo-vos, desejo conhecer-vos, quero amar-vos e poder regozijar-me em Vós. E se nesta vida não sou capaz disto na medida plena, que eu possa pelo menos progredir cada dia, até alcançar a plenitude' (Proslogion, cap. 14). Esta oração permite compreender a alma mística deste grande santo da época medieval, fundador da teologia escolástica, a quem a tradição cristã atribuiu o título de 'Doutor Magnífico', porque cultivou um desejo intenso de aprofundar os Mistérios divinos, porém na plena consciência de que o caminho de busca de Deus nunca termina, pelo menos nesta terra. A clareza e o rigor lógico do seu pensamento tiveram sempre como finalidade 'elevar a mente à contemplação de Deus' (Ibid., Proemium). Ele afirma claramente que quem tem a intenção de fazer teologia não pode contar somente com a sua inteligência, mas deve cultivar ao mesmo tempo uma profunda experiência de fé. A atividade do teólogo, segundo Santo Anselmo, desenvolve-se assim em três fases: a fé, dom gratuito de Deus, a acolher com humildade; a experiência, que consiste em encarnar a palavra de Deus na própria existência quotidiana; e portanto o verdadeiro conhecimento, que jamais é fruto de raciocínios assépticos, mas sim de uma intuição contemplativa. A este propósito, parecem mais úteis do que nunca também hoje, para uma investigação teológica sadia e para quem quer que deseje aprofundar as verdades da fé, as suas célebres palavras: 'Não tento, Senhor, penetrar a vossa profundidade, porque não posso sequer de longe comparar com ela o meu intelecto; mas desejo entender, pelo menos até um certo ponto, a vossa verdade, em que o meu coração crê e ama. Com efeito, não procuro compreender para crer, mas creio para compreender' (Ibid., 1).
Caros irmãos e irmãs, o amor pela verdade e a sede constante de Deus, que assinalaram toda a existência de Santo Anselmo, sejam um estímulo para cada cristão a procurar, sem nunca se cansar, uma união cada vez mais íntima com Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Além disso, o zelo repleto de coragem que distinguiu a sua obra pastoral, e que às vezes lhe causou incompreensões, amarguras e até o exílio, seja um encorajamento para os Pastores, para as pessoas consagradas e para todos os fiéis, a amar a Igreja de Cristo, a rezar, a trabalhar e a sofrer por ela, sem nunca a abandonar nem atraiçoar. Conceda-nos esta graça a Virgem Mãe de Deus, por quem Santo Anselmo nutriu devoção terna e filial. 'Maria, o meu coração quer amar-te — escreve Santo Anselmo — e os meus lábios desejam ardentemente louvar-te'".
Depois das palavras do Santo Padre, encerramos. Abração, gente.
Comunidade Paz & Mel.
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