Paz e Mel

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Catequese Papal recorda o mosteiro de Cluny

Catequese de há dois meses, e outras grandes personalidades, como Emardo, Májolo, Odilão e sobretudo Hugo o Grande, os quais desempenharam o seu serviço por longos períodos, garantindo estabilidade à reforma empreendida e à sua difusão. Além de Odon, são venerados como Santos Májolo, Odilão e Hugo. http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2009/documents/hf_ben-xvi_aud_20091111_po.html
Queridos e amados irmãos e irmãs:

Seguindo as catequeses do Santo Padre sobre a realidade da Idade Média e seus santos. Repassamos agora aquela ministrada no último dia 11 de novembro, em que Bento XVI se deteve mais sobre os monges de Cluny. O Bispo de Roma ressaltou o cuidado com o silêncio e com a oração dos monges. Ressaltando a certeza de que participavam da liturgia celeste, vemos um pensamento positivamente medieval, qual seja, a consciência da realidade espiritual. No nosso tempo, muito pouco ou nada se pensa sobre os anjos e santos que rezam conosco, ou em como são seus cânticos e sua liturgia.

O sucessor de São Pedro falou de uma dificuldade da Igreja à época, a simonia, que era a nomeação de cargos eclesiásticos por razões políticas. Veja-se que tais nomeações eram feitas, o mais das vezes, por pressões de autoridades seculares. De fato, a interferência do poder civil na autoridade eclesiástica sempre traz graves conseqüências. Também retomou a dificuldade da época com o celibato, e dos bons frutos da ação de Cluny nesse sentido.

O Vigário de Cristo retomou a importância da obra assistencial da Igreja à época, eis que não havia outra, e ressaltou as instituições da "tréguas de Deus" e da "paz de Deus". Eram ações poderosas da igreja à época que garantiam um pouco de paz e intervalo e enfraquecimento de violências, institutos hoje esquecidos por aqueles que só querem ver os defeitos da Igreja e desse tempo. Careceria, porém, nosso tempo de uma autoridade e ações assim.

O Sumo Pontífice ainda ressaltou dois valores fundamentais desenvolvidos na época, também a partir das reformas impulsionadas por Cluny: a dignidade da pessoa humana e a promoção da paz. Ao final, o Santo Padre orou para que os que buscam um humanismo autêntico reconheçam em Cristo em sua origem e que a Europa reconheça suas origens cristãs.

Convidamos todos a nos unirmos nas oração do Santo Padre. Precisamos mesmo nos dar conta de que Jesus Cristo e os valores cristãos a nós garantidos unicamente pela Igreja Católica são imprescindíveis na história e no futuro de nossa sociedade. Rezemos e trabalhemos para que essa boa integração entre sociedade e religião, entre fé e vida, aconteça em todos nós.


Abração,

Manoel Guimarães,
Comunidade Paz & Mel.

Segue a íntegra do discurso papal.



"A reforma cluniacense
Queridos irmãos e irmãs!
Gostaria de vos falar esta manhã de um movimento monástico que teve grande importância nos séculos da Idade Média, que já mencionei em catequeses precedentes. Trata-se da Ordem de Cluny que, no início do século XII, momento da sua máxima expansão, contava quase 1200 mosteiros:  um número deveras impressionante! Em Cluny, há precisamente 1100 anos, foi fundado um mosteiro colocado sob a guia do abade Bernon, em 910, após a doação de Guilherme o Piedoso, Duque de Aquitânia. Naquele momento, o monaquismo ocidental, que tinha florescido alguns séculos antes com São Bento, tinha decaído muito por várias causas:  as condições políticas e sociais instáveis devido às contínuas invasões e devastações de povos não integrados no tecido europeu, a pobreza difundida e sobretudo a dependência das abadias dos senhores locais, que controlavam tudo o que pertencia aos territórios de sua competência. Neste contexto, Cluny representou a alma de uma renovação profunda da vida monástica, para a reconduzir à sua inspiração originária.
Em Cluny foi restabelecida a observância da Regra de São Bento com algumas adaptações já introduzidas por outros reformadores. Sobretudo quis-se garantir o papel central que a Liturgia deve ocupar na vida cristã. Os monges cluniacenses dedicavam-se com amor e grande cura à celebração das Horas litúrgicas, ao canto dos Salmos, a procissões tão devotas quão solenes e, sobretudo, à celebração da Santa Missa. Promoveram a música sacra; quiseram que a arquitetura e a arte contribuíssem para a beleza e a solenidade dos ritos; enriqueceram o calendário litúrgico de celebrações especiais como, por exemplo, no início de Novembro, a Comemoração dos fiéis defuntos, que também nós celebramos há pouco; incrementaram o culto da Virgem Maria. Foi reservada muita importância à liturgia, porque os monges de Cluny estavam convictos de que ela fosse participação na liturgia do Céu. E os monges sentiam-se responsáveis por interceder junto do altar de Deus pelos vivos e pelos mortos, dado que muitíssimos fiéis lhes pediam com insistência para serem recordados na oração. De resto, precisamente com esta finalidade Guilherme o Piedoso quisera o nascimento da Abadia de Cluny. No antigo documento, que confirma a sua fundação, lemos:  'Estabeleço com este dom que em Cluny seja construído um mosteiro de regulares em honra dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e que aí se recolham monges que vivam segundo a Regra de São Bento (...) que ali um venerável refúgio de oração com votos e súplicas seja freqüentado, e se procure e se brame com todos os desejos e ardor íntimo pela vida celeste, e assiduamente orações, invocações e súplicas sejam dirigidas ao Senhor'. Para conservar e alimentar este clima de oração, a regra cluniacense acentuou a importância do silêncio, a cuja disciplina os monges se submetiam espontaneamente, convictos de que a pureza das virtudes, pela qual aspiravam, exigia um recolhimento íntimo e constante. Não admira que muito depressa o mosteiro de Cluny ganhasse fama de santidade, e que muitas outras comunidades monásticas decidissem seguir os seus costumes. Muitos príncipes e Papas pediram aos abades de Cluny para difundir a sua reforma, de modo que em pouco tempo se propagou uma densa rede de mosteiros ligados a Cluny ou com verdadeiros vínculos jurídicos ou com uma espécie de afiliação carismática. Ia-se assim delineando uma Europa do espírito nas várias regiões da França, em Itália, na Espanha, na Alemanha, na Hungria.
O sucesso de Cluny foi garantido antes de tudo pela espiritualidade elevada que lá se cultivava, mas também por algumas outras condições que favoreciam o seu desenvolvimento. Ao contrário de quanto tinha acontecido até então, o mosteiro de Cluny e as comunidades dele dependentes foram dispensadas da jurisdição dos Bispos locais e submetidos diretamente à do Romano Pontífice. Isto levava a um vínculo especial com a Sé de Pedro e, graças precisamente à proteção e ao encorajamento dos Pontífices, os ideais de pureza e de fidelidade, que a reforma cluniacense pretendia perseguir, puderam difundir-se rapidamente. Além disso, os abades eram eleitos sem qualquer ingerência da parte das autoridades civis, diversamente do que acontecia noutros lugares. Pessoas deveras dignas se sucederam na guia de Cluny e das numerosas comunidades monásticas dependentes:  o abade Odon de Cluny, do qual falei numa

A reforma cluniacense teve efeitos positivos não só na purificação e no despertar da vida monástica, mas também na vida da Igreja universal. Com efeito, a aspiração à perfeição evangélica representou um estímulo para combater dois graves males que afligiam a Igreja daquele período:  a simonia, isto é, a aquisição de cargos pastorais com gratificações, e a imoralidade do clero secular. Os abades de Cluny com a sua respeitabilidade espiritual, os monges cluniacenses que se tornaram Bispos, alguns deles até Papas, foram protagonistas desta imponente ação de renovação espiritual. E os frutos não faltaram:  o celibato dos sacerdotes voltou a ser estimado e vivido, e na posse dos cargos eclesiásticos foram introduzidos procedimentos mais transparentes.
Significativos foram também os benefícios dados à sociedade pelos mosteiros inspirados na reforma cluniacense. Numa época na qual só as instituições eclesiásticas se ocupavam dos indigentes foi praticada com empenho a caridade. Em todas as casas, o esmoler tinha o dever de hospedar os viandantes e os peregrinos necessitados, os sacerdotes e os religiosos em viagem, e sobretudo os pobres que pediam alimento e hospedagem por alguns dias. Não menos importantes foram outras duas instituições, típicas da civilização medieval, promovidas por Cluny:  as chamadas 'tréguas de Deus' e a 'paz de Deus'. Numa época muita marcada pela violência e pelo espírito de vingança, com as 'tréguas de Deus' eram garantidas longas temporadas de não beligerância, por ocasião de determinadas festas religiosas e de alguns dias da semana. Com a 'paz de Deus' pedia-se, sob a pena de uma censura canônica, para respeitar as pessoas inermes e os lugares sagrados.
Era incrementada assim na consciência dos povos da Europa aquele processo de longa gestação, que levou a reconhecer, de modo cada vez mais claro, dois elementos fundamentais para a construção da sociedade, isto é, o valor da pessoa humana e o bem primário da paz. Além disso, como acontecia para as outras fundações monásticas, os mosteiros cluniacenses dispunham de amplas propriedades que, postas diligentemente a frutificar, contribuíram para o desenvolvimento da economia. Paralelamente ao trabalho manual, não faltaram também típicas atividades culturais do monaquismo medieval como as escolas para as crianças, a preparação de bibliotecas, os scriptoria para a transcrição dos livros.
Desta forma, há mil anos, quando estava em pleno desenvolvimento o processo de formação da identidade européia, a experiência cluniacense, difundida em vastas regiões do continente europeu, deu a sua importante e preciosa contribuição. Ressaltou a primazia dos bens do espírito; manteve desperta a propensão para as coisas de Deus; inspirou e favoreceu iniciativas e instituições para a promoção dos valores humanos; educou para um espírito de paz. Queridos irmãos e irmãs, rezemos para que todos os que se preocupam por um humanismo autêntico e pelo futuro da Europa saibam redescobrir, apreciar e defender o rico patrimônio cultural e religioso destes séculos".




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