Queridos e amados irmãos e irmãs:
O tempo do Advento avança e, no próximo domingo, entraremos na sua terceira semana. A partir daí, começamos o ingresso na segunda parte deste tempo litúrgico. Passamos, da meditação da espera e preparação para a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, à meditação e recordação da primeira, na humildade da gruta e da manjedoura, a vinda que realizou o Mistério da Encarnação e encaminhou a nossa Redenção. De modo especial, a partir do dia 17, toda a liturgia ingressa numa verdadeira contagem regressiva até o Santo Natal.
Neste momento em que vamos ingressar, recordamos o magnífico tempo entre a anunciação do anjo Gabriel, que já aparecera a Zacarias para anunciar João Batista, a Nossa Senhora, e o efetivo nascimento do Senhor Jesus. Depois, o tempo do Natal ainda passaremos, ainda em sua oitava, pela Solenidade da Sagrada Família, após, pela Epifania, e ainda até a Festa do Batismo de Jesus. De modo especial, neste momento do Advento, aparece com destaque a pessoa da Virgem Santíssima.
Voltamo-nos para a pequena Nazaré. Lá há uma moça, virgem, bela, descendente da casa de Davi, desposada por um homem, reconhecidamente justo, da mesma descendência. A descendência era nobre; a vida era simples. Ele era carpinteiro. Trabalhava duramente para se sustentar e, esperava, à família que formaria. No quotidiano da menina que aprende as lidas e do homem simples que labuta correta e firmemente dia a dia, um dos fatos mais extraordinários da humanidade irrompe com uma força estupenda, mas travestida de uma simplicidade inacreditável.
Um Arcanjo do Senhor aparece a jovem e lhe anuncia que será a mãe do "filho do Altíssimo". Ela pondera que humanamente não seria possível, pois era virgem, mas Gabriel lhe esclarece: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra..." (cf. Lc 1,35). Tais palavras não eram inteiramente compreensíveis a jovem. A quem, naquela circunstância, seriam? É mais do que o bastante, porém, para que se saiba que, quando Deus mesmo quer intervir, as limitações humanas nada significam. A moça consente, obediente a Deus. Logo, se tornaria para a humanidade, com Seu Divino Filho, modelo definitivo de obediência a Deus. Nesse momento, acontecia o inimaginável: Deus se fez homem.
Quando falamos de "mistério", não é algo que compreendemos. É justamente algo que não compreendemos, embora nossa razão aceite perfeitamente, por reconhecer a verdade, mesmo sem a conseguir conceituar exatamente. Se dizemos compreender como Deus se faz homem, enganamo-nos a nós mesmos. Deus se faz homem, o Santo dos santos, o Rei dos reis, Aquele que controla cada fóton que sai do nosso Sol a aproximadamente 300.000 quilomêtros por segundo, Aquele que move as Constelações sem esforço algum, Aquele que abre buracos negros e faz estourar Supernovas, Aquele que faz trilhões de moléculas de vapor d'água se condensarem no nosso firmamento sob a forma de nuvens, até que se precipitem com força nas chuvas de verão, Aquele que conhece todas as células do nosso corpo, que nos consolou em todas as lágrimas já derramadas em nossas vidas, enfim, o Onipotente se fez homem, menino que aprenderá a falar, a ler, escrever, e, é claro, o ofício de seu pai, a carpintaria.
Ele desce de sua condição espiritual, para se revestir de uma carne semelhante a do pecado. Deus assume nossa condição para sentir limitação, fraqueza, sono, fome, cansaço, sede, dor física. Mais próximo de nós do que nós mesmos, Ele não precisava da Encarnação para melhor nos compreender ou amar, mas fê-lO para nos manifestar esse amor, essa compreensão, essa proximidade. E para nos elevar, para nos aproximar dEle! Porém, como se deu a Encarnação, não podemos compreender. Apenas podemos repetir as palavras do anjo, sem seu total entendimento: "é que o Espírito Santo desceu sobre ela e o poder do Altíssimo a envolveu...". O que isso significa exatamente, não o compreendemos! Sabemos, porém, que Deus se Encarnou, que a Virgem concebeu Deus feito menino.
E o que se segue? A mãe e o pai passam a residir num castelo de ouro e diamantes, servidos por anjos, cuidados em tudo o que viveriam para o acontecimento mais extraordinário da humanidade desde que existe? Não! A moça segue aprendendo a cozinhar e costurar, trabalhando nos seus afazeres domésticos, na sua vida simples e de profunda oração. Mais que isso, ao saber que a prima idosa engravidara, corre a ela para lhe servir. Aquela que poderia exigir ser servida pelos anjos, corre a servir uma igual. Em tal abundância de amor, da troca de saudações entre as primas não poderia surgir nada menos que um importante trecho da Ave-Maria e o Magnificat. De outro lado, o pai adotivo, o justo, segue sendo honesto, fazendo cadeiras, camas, mesas, portas, armários... Mas onde está a glória que seria justa a tamanho acontecimento! Deus mesmo, e seus servos aí envolvidos, são extremamente humildes.
E não basta! Mesmo a calmaria da simplicidade passa! São José, vendo a gravidez e sabendo de sua castidade, entende que sua noiva espera um filho que não é dele. O sentimento de traição, a incompreensão, nada é maior que sua misericórdia e que o amor, que segue fiel mesmo na infidelidade ou na sua aparência. Ele pensa em deixá-la, ir embora! Viver sua vida simples longe do sonho do santo matrimônio, agora desfeito. Deus não permite a injustiça e a ignorância. Um anjo esclarece ao justo em sonho o plano de Deus que se desenrola.
Os eventos se agitam mais! Por um decreto do imperador romano, que se acha e se diz, agora, deus, o jovem casal deve voltar a sua origem. Viajarão até Belém, ela grávida, ambos sem condições, mas com coragem, o casal vê aí a confirmação da profecia de Deus. E para lá se dirigem, sem se deixar abater pelas contrariedades da viagem.
O que encontram quando lá chegam e o que se sucede, não é tempo de o contemplarmos por ora. Isso fica para daqui há duas semanas. Por ora, paramos aqui nossa meditação conjunta. Cada um prossiga a sua, bem como sua oração, seus jejuns, sua Confissão e suas Santas Missas, enfim, seu caminho pessoal de preparação para o Santo Natal.
Que o Senhor nos abençoe a todos!
Forte abraço,
Manoel Guimarães,
Comunidade Paz & Mel.
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