Queridos e irmãos e irmãs, amigos deste blog: De tempos em tempos, as conferências episcopais vão ao Santo Padre para visitas chamadas ad limina, informando de sua realidade local e recebendo do próprio sucessor de São Pedro as orientações entendidas por pertinentes. É deveras oportuno transcrever as palavras do próprio Santo Padre aos Bispos brasileiros, devendo todos nós a elas atentarmos porque são palavras destinadas a nossa realidade. Em face disso, estaremos passando a cada semana, um desses discursos, com comentários. O presente já foi publicado no site da Comunidade Paz & Mel, www.pazemel.org.br, com ligeiras alterações. Os demais serão publicados primeiramente neste blog.
No último dia 07 de setembro, estiveram diante do Santo Padre os Bispos das Regionais Centro-Oeste 1 e 2, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Após falarem de sua situação, o Santo Padre lhes dirigiu a palavra. O Santo Padre contextualizou que, após, o Concílio Vaticano II, "alguns" buscaram destacar alguns valores que poderiam ter sentido cristão, "como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação".
Como conseqüência "alguns responsáveis eclesiais" passaram a intervir "em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos". Dessa situação decorreu a terrível conseqüência de que: "Insensivelmente caiu-se na autossecularização de muitas comunidades eclesiais", que "esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham".
É despiciendo dizer o quanto Bento XVI tem razão. No entanto, é preciso aplaudir incessantemente novamente sua capacidade de síntese da problemática eclesial atual, expondo-lhe o cerne. Deslumbrado com um mundo de grandes descobertas científicas, saindo de um pós-guerra com a reta intenção de não mais ao conflito retornar, buscando a organização em uma comunidade de nações, pautando-se por valores autênticos, "alguns" acharam que isso bastaria. Deixou-se, mesmo em ambientes eclesiais, de falar no que é especificamente cristão e católico, para se dedicar a temas bons, mas genéricos, como paz, justiça, igualdade, amor. Sem o conteúdo propriamente cristão, dado por Jesus Cristo e guardado pela Igreja, sendo este o seu tesouro, não os conteúdos genéricos que o mundo busca, o que se viu foi um deturpar-se daquelas retas intenções, até que se caísse na chamada "ditadura do relativismo" tantas vezes denunciada pelo Sumo Pontífice.
Inevitavelmente, sem se voltar ao Senhor Jesus, os conceitos de amor, paz, igualdade, justiça e tantos outros se deturpam e a humanidade acaba se perdendo e rumando para o erro. À Santa Igreja Católica cabe trabalhar pela implementação do Reino de Deus anunciando e testemunhando Jesus. O mundo, por sua vez, precisa de Jesus Cristo, Sua Salvação e Sua Doutrina, sem o que se perde, mesmo quando com reta intenção. Foi realmente um terrível erro, como apontado pelo Santo Padre, entrar no discurso do mundo, buscando uma ética sem o anúncio radical das verdades cristãs, crendo que isso só levaria ao verdadeiro bem. Como conseqüência, novamente perfeito o Papa, "autossecularização", perda de fiéis e, acerca do resultado esperado do mundo, não foi obtido. Ele não passou a aderir a fé pelas concessões dadas ou pela generalização do discurso. Para deixar doer em nossos corações e estar sempre diante de nós a conclusão de Bento XVI: "esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham". Foi mesmo o resultado de corresponder "às expectativas da opinião pública", mas deixando-se "de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos".
Realmente, o que o mundo e as pessoas precisam da Igreja é sua fidelidade e reflexo do próprio Jesus Cristo: "querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado". Dessa realidade hoje colhemos as tenebrosas conseqüências: "há uma nova geração já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a nova geração sente uma grande sede de transcendência". E o que essas pessoas precisam é "encontrar formadores que sejam verdadeiros homens de Deus, sacerdotes totalmente dedicados à formação, que testemunhem o dom de si à Igreja, através do celibato e da vida austera, segundo o modelo do Cristo Bom Pastor. Assim esses jovens aprenderão a ser sensíveis ao encontro com o Senhor, na participação diária da Eucaristia, amando o silêncio e a oração, procurando, em primeiro lugar, a glória de Deus e a salvação das almas".
Certamente os Bispos da Região Centro-Oeste, das Regionais 1 e 2 da CNBB, entenderam perfeitamente as palavras do Santo Padre, se é que já não haviam intuído o problema. Nós, brasileiros, e latino-americanos em geral, devemos também mergulhar nessa realidade. Após o Concílio Vaticano II, de sã doutrina, adveio uma mentalidade e interpretação equivocadas, valorizando demasiado os valores que o mundo apresentava e por que ansiava. Nesse quadro, muitos dentro da Santa Igreja se equivocaram e, deixando de anunciar, endossaram discursos seculares que, sem estar baseados em Jesus Cristo e na verdade cristã, descambaram em relativismo e infelicidade. Voltemo-nos ao Santo Padre, voltemo-nos à radicalidade da mensagem evangélica, voltemo-nos a Jesus Cristo, voltemo-nos à sã doutrina. Sem isso, mesmo os bons valores do mundo se perdem. Sem Deus, o homem não é capaz de encontrar a felicidade e prosperidade que procura.
Manoel Guimarães,
Comunidade Paz & Mel.
Seque a íntegra do discurso papal:
"Discurso do Santo Padre Bento XVI aos Bispos das Regiões Centro-Oeste 1 e 2, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Queridos Irmãos no Episcopado,
Com sentimentos de íntima alegria e amizade, acolho e saúdo a todos e cada um de vós, amados Pastores dos Regionais Oeste 1 e 2 no âmbito da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Com o vosso grupo, abre-se a longa peregrinação dos membros desta Conferência Episcopal em visita ad limina Apostolorum, que me dará ocasião de conhecer melhor a realidade das respectivas comunidades diocesanas. Serão jornadas de partilha fraterna para refletirmos juntos sobre as questões que vos preocupam. Um momento profundamente esperado desde aqueles inesquecíveis dias de maio de dois mil e sete, em que durante a minha visita ao vosso país pude experimentar todo o carinho do povo brasileiro pelo Sucessor de Pedro e, de modo especial, quando tive a possibilidade de abraçar com o olhar todo episcopado desta grande nação no encontro na catedral da Sé, em São Paulo.
Com efeito, só o coração grande de Deus pode conhecer, guardar e reger a multidão de filhos e filhas que Ele mesmo gerou na vastidão imensa do Brasil. Ao longo dos nossos colóquios destes dias, emergiam alguns desafios e problemas que enfrentais, como o Arcebispo de Campo Grande referia ao início deste nosso encontro. Impressionam as distâncias que vós mesmos, juntamente com vossos sacerdotes e demais agentes missionários, tendes de percorrer para servir e animar pastoralmente os respectivos fiéis, muitos deles a braços com problemas próprios duma urbanização relativamente recente onde o Estado nem sempre consegue ser um instrumento de promoção da justiça e do bem comum. Não vos desanimeis! Lembrai-vos que o anúncio do Evangelho e a adesão aos valores cristãos, como afirmei recentemente na Encíclica Caritas in Veritate 'é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral' (n. 4). Obrigado, Senhor Dom Vitório, pelas amáveis palavras e devotados sentimentos que me dirigiu em nome de todos e que me apraz retribuir com votos de paz e prosperidade para o povo brasileiro neste significativo dia da sua Festa Nacional.
Como Sucessor de Pedro e Pastor universal, posso assegurar-vos que o meu coração vive dia a dia as vossas inquietudes e canseiras apostólicas, não cessando de lembrar junto de Deus os desafios que enfrentais no crescimento das vossas comunidades diocesanas. Em nossos dias, e concretamente no Brasil, os trabalhadores na Messe do Senhor continuam a ser poucos para a colheita que é grande (cf. Mt 9, 36-37). Não obstante a carência sentida, é verdadeiramente essencial uma adequada formação daqueles que são chamados a servir o Povo de Deus. Por essa razão, no âmbito do Ano Sacerdotal em curso, permiti que me detenha hoje a refletir convosco, amados Bispos do Oeste brasileiro, sobre a solicitude qualificativa do vosso ministério episcopal que é a geração de novos pastores.
Embora seja Deus o único capaz de semear no coração humano a chamada para o serviço pastoral do seu povo, todos os membros da Igreja deveriam interrogar-se sobre a urgência íntima e o real empenho com que sentem e vivem esta causa. Um dia, quando alguns dos discípulos temporizavam observando que faltavam «ainda quatro meses» para a colheita, Jesus rebateu: 'Pois eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita' (Jo 4, 35). Deus não vê como o homem! A pressa do bom Deus é ditada pelo seu desejo de que «todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2,4). Há tantos que parecem querer consumir a vida toda em um minuto, outros que vagueiam no tédio e na inércia, ou abandonam-se a violências de todo gênero. No fundo, não passam de vidas desesperadas à procura da esperança, como o demonstra uma difusa embora às vezes confusa exigência de espiritualidade, uma renovada busca de pontos de referência para retomar a estrada da vida.
Prezados Irmãos, nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na autossecularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado.
Atualmente há uma nova geração já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a nova geração sente uma grande sede de transcendência.
São os jovens desta nova geração que batem hoje à porta do Seminário e que necessitam encontrar formadores que sejam verdadeiros homens de Deus, sacerdotes totalmente dedicados à formação, que testemunhem o dom de si à Igreja, através do celibato e da vida austera, segundo o modelo do Cristo Bom Pastor. Assim esses jovens aprenderão a ser sensíveis ao encontro com o Senhor, na participação diária da Eucaristia, amando o silêncio e a oração, procurando, em primeiro lugar, a glória de Deus e a salvação das almas. Amados Irmãos, como sabeis, é tarefa do Bispo estabelecer os critérios essenciais para a formação dos seminaristas e dos presbíteros na fidelidade às normas universais da Igreja: neste espírito devem ser desenvolvidas as reflexões sobre este tema, objeto da assembléia plenária da vossa Conferência Episcopal, em abril passado.
Certo de poder contar com o vosso zelo no tocante à formação sacerdotal, convido todos Bispos, seus sacerdotes e seminaristas a reproduzirem na vida a caridade de Cristo Sacerdote e Bom Pastor, como fez o Santo Cura d'Ars. E, como ele, tomem por modelo e proteção da própria vocação a Virgem Mãe, que correspondeu de um modo único ao chamado de Deus, concebendo no seu coração e na sua carne o Verbo feito homem para doá-lo à humanidade. Às vossas dioceses, com uma cordial saudação e a certeza da minha oração, levai uma paterna Bênção Apostólica".
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